Alma?, primeiro volume da série O Protetorado da Sombrinha, me encantou desde o momento em que vi esta capa. Embora não a tenha achado lindíssima, ela com certeza deixou um ar de mistério no ar que me fez ansiar pela leitura do livro. A série steampunk trouxe uma heroína incomum para o mundo literário: Alexia Tarabotti, ou srta. Tarabotti, uma preternatural.
Pra quem não sabe, os preternaturais são seres que não são nem naturais, nem sobrenaturais, eles simplesmente não tem alma. Para que um humano sobreviva às transformações para se tornar um vampiro ou um lobisomem, ou até mesmo um fantasma, é necessário que o mesmo tenha uma quantidade de alma específica. É por isso que artistas, músicos, pintores, entre outros artistas em geral, possuem a tendência de sobreviverem à "metamorfose", pois estes possuem um quantidade de alma maior. Já os preternaturais, que não possuem esse elemento, além de não poderem se tornar um ser sobrenatural, tem uma outra característica peculiar: eles anulam os poderes não-naturais dos outros seres, fazendo com que um ser sobrenatural se torne humano temporariamente com apenas um toque.
Na antiga Londres do século XIX, os seres sobrenaturais já vivem em harmonia com seus co-habitantes humanos. Existem bares especiais para vampiros, um governo paralelo que defende os interesses dos sobrenaturais perante a Rainha Elizabeth, prostitutas de sangue, festas de comemoração pela lua cheia, e o DAS (Departamento de Arquivos Sobrenaturais), que tem a função de controlar os lobisomens, fantasmas e vampiros da região.
Apesar de solteirona e fora dos padrões de beleza da sociedade, graças a sua descendência italiana, Alexia não se deixa abalar pelos comentário afetados, que sempre tinham como protagonista a solteira de nariz avantajado de 26 anos da cidade. Com sua inteligência, humor sagaz, paixão pela leitura, condição preternatural e atitude audaciosa, Alexia sempre se intrometia nos assuntos do DAS, que tinha como seu diretor o Lorde Maccon, o lobisomem Alfa da alteia da região, alguém por quem ela dizia nutrir somente sentimentos ruins.
Ainda assim, os assuntos do Lorde e da solteirona não estavam tão relacionados até o dia em que, em pleno baile de gala, Alexia assassinou um vampiro recém transformado que nada tinha de educado (afinal, ele a atacou sem nem ao menos perguntar seu nome!). Quando srta. Tarabotti começa a ser investigada pela colmeia de vampiros da região e sofre uma tentativa de sequestro, Lorde Maccon percebe que não pode mais ignorá-la, e o que quer que esteja acontecendo na sua cidade, em que vampiros errantes e lobos solitários estão desaparecendo, Alexia com toda certeza está envolvida. E ele precisa protegê-la.
Esse foi o primeiro livro steampunk que li, e adorei a experiência. Sem sombra de dúvidas, Gail conseguiu criar uma protagonista inusitada, audaciosa, inteligente, forte, atrevida e instigante. Em vários momentos desejei dar uns tapas na srta. Tarabotti por sua atitude abelhuda, mas ainda assim em nenhum momento deixei de torcer pela moça. E não somente a protagonista ganhou meu coração, mas também Lorde Maccon (com seu charme e brutalidade de um Alfa) e o Lorde Akeldama (com toda a sua extravagância à flor da pele), deixando claro que a autora mais do que soube desenvolver seus personagens.
Com um cenário repleto de bailes de gala, anquinhas, cortes, chás ingleses e protocolos, típicos do século XIX, Alma? carrega o leitor para um ambiente criativo e histórico. Além do enredo histórico e da narrativa leve, mas às vezes carregada de palavras ou expressões antigas, Gail soube deixar seu leitor angustiado por mais. Principalmente quando ela fez Lorde Maccon e Alexia trabalharem juntos, o que nos rende várias risadas e suspiros. Se você não leu, leia!
(...) Com Alexia, tudo era imprevisível. Uma união cheia de surpresas e emoções era mais que qualquer um poderia desejar. E Lorde Maccon nunca fora do tipo que ansiara por uma vida pacata. (Página 186)
Beijos e comentem!